
Sinovac tem papel central na produção de vacinas e na saúde pública do Brasil
Instalação de fábrica no país é estratégica para o fornecimento de imunizantes que protegem a população contra doenças infecciosas, uma vez que não será mais necessário importar esses insumos de outros países. Geração de empregos e fortalecimento do setor são outros pontos positivos
Em junho de 2024, o vice-presidente do Brasil e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, anunciou o investimento de R$ 100 milhões da Sinovac na produção de vacinas e terapias celulares no país.
Na mesma visita oficial à China, Alckmin também divulgou a parceria da empresa com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em pesquisa e desenvolvimento de vacinas. “A ciência ajuda o mundo e temos que avançar ainda mais, temos que trabalhar juntos, por isso saúdo a disposição da Sinovac de investir no Brasil”, disse o ministro na ocasião.
Segundo Weining Meng, vice-presidente da Sinovac, durante a pandemia de COVID-19 a empresa percebeu o potencial e a demanda para vacinas na América Latina, particularmente no Brasil, um grande mercado na área da saúde. A região, porém, carece de uma indústria biofarmacêutica robusta, especialmente na produção de vacinas.
“Nossa estratégia é trazer a produção e desenvolvimento de vacinas para o Brasil, fortalecendo parcerias locais para estabelecer operações de longo prazo. O modelo tem sido bem-sucedido na Turquia e esperamos replicá-lo na América Latina”, afirma Meng.
A empresa tem duas joint-ventures fora da China, o que pode ser replicado no Brasil. Na Turquia, foi realizada uma parceria com uma empresa privada local e a fábrica já está totalmente operacional, com transferência de tecnologia em andamento. Na Colômbia, a joint-venture foi com o município de Bogotá, e a fábrica deve começar a ser construída em 2025.
A Sinovac distribuiu mais de 3 bilhões de doses de vacina contra a COVID-19 no mundo, cerca de um terço para países em desenvolvimento. No Brasil, a parceria com o Instituto Butantan possibilitou o fornecimento de mais de 125 milhões de doses.
«Nós já contamos com uma produção brasileira, com laboratórios públicos fabricando vacinas no país, mas essa capacidade não é suficiente para atender toda a demanda nacional. Ampliar essa produção seria fundamental, permitindo que o Brasil também se torne um exportador de vacinas, especialmente no contexto latino-americano”, opina a epidemiologista Carla Domingues, doutora em saúde pública e coordenadora do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde entre 2011 e 2019.
Além da COVID-19, a Sinovac planeja aumentar a disponibilidade de uma variedade de vacinas, visando doenças que afetam tanto o Brasil quanto a região mais ampla da América Latina. O objetivo é que a produção local e as parcerias estratégicas contribuam para o crescimento do setor de biotecnologia do Brasil, promovendo a inovação, a criação de empregos e o desenvolvimento de longo prazo no setor de saúde.
“Ao estabelecer a produção local, vamos não apenas criar empregos, mas também estimular investimentos em pesquisa e desenvolvimento, estudos clínicos e manufatura. Isso vai beneficiar tanto o setor público quanto o privado”, atesta Meng.
Segundo Domingues, a produção local impacta positivamente a economia, diminuindo a necessidade de importação e fortalecendo a balança comercial. “Com uma infraestrutura biofarmacêutica local, ampliamos o mercado produtor nacional, impulsionamos o PIB e geramos empregos formais. Esse avanço vai além dos benefícios à saúde pública, representando uma expansão do mercado e um impacto social significativo”, diz.
O vice-presidente da Sinovac afirma ainda que o Brasil tem uma grande força de trabalho e excelentes cientistas, o que contribui para que a colaboração com parceiros locais maximize os recursos aplicados, fortalecendo a indústria de vacinas.
“Estamos comprometidos com produção 100% local, não apenas em envasar algo produzido fora do país. Isso vai aumentar a eficiência da indústria e nos permitir competir com empresas multinacionais”, ressalta o executivo da Sinovac.
A Sinovac já possui três vacinas pré-qualificadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS): contra a poliomielite, a hepatite A e a varicela. Essas vacinas, amplamente reconhecidas e utilizadas em diversas regiões, demonstram o compromisso da empresa em garantir soluções imunológicas seguras e eficazes para o Brasil e o mundo, reforçando a confiança pública e a cooperação com órgãos regulatórios internacionais.
Terapias celulares
Além de vacinas, a Sinovac planeja desenvolver novas tecnologias no Brasil, como terapias de células CAR-T. No Brasil, um estudo clínico está sendo realizado para aprovar o uso em larga escala de uma tecnologia desenvolvida no país, a um custo bem inferior aos tratamentos aprovado nos Estados Unidos.
Por isso, a Sinovac pretende investir em pesquisa e desenvolvimento e estabelecer colaborações no país para a produção dessa e de outras terapias avançadas. Atualmente, 50% dos estudos clínicos para células CAR-T e terapias gênicas são realizados nos Estados Unidos, 40 a 45% na China e muito poucos na Europa e no Japão. Na América Latina, ocorrem menos de 1% desses testes, o que evidencia a oportunidade para o Brasil crescer nesse campo.
“Atualmente, as terapias CAR-T disponíveis no Brasil têm os mesmos preços praticados nos Estados Unidos, o que as torna inacessíveis para a maioria dos brasileiros. Produzindo localmente e investindo em pesquisa e desenvolvimento, podemos tornar essas terapias mais acessíveis, transformando o Brasil em um líder em biotecnologia junto a China e Estados Unidos”, afirma Meng.
Parcerias
A Sinovac já se comprometeu em colaborar com instituições de pesquisa brasileiras, como a Fiocruz, como parte do Centro BRICS de Desenvolvimento de Vacinas. A instituição federal já é uma parceira em pesquisa básica e estudos clínicos, que a empresa considera chave para reforçar a inovação na criação de vacinas e para tornar o Brasil um player auto-suficiente na indústria de vacinas.
“Ter uma produção nacional é essencial, especialmente quando falamos de insumos farmacêuticos ativos aqui no Brasil. Isso reduz nossa dependência do mercado internacional e aumenta a capacidade de resposta rápida a emergências, tanto no país quanto globalmente, o que faz uma grande diferença”, explica Domingues.
“O Brasil é um país membro dos BRICS com tremendo potencial para a inovação em saúde. Por meio de nossa colaboração com a Fiocruz, pretendemos construir uma indústria capaz de enfrentar tanto desafios nacionais quanto globais de saúde”, encerra Meng.